segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Argentina ameaça criar novas barreiras a produto brasileiro

Guillermo Moreno, secretário de Comércio argentino: "contramedidas" não ortodoxas para deter importação do Brasil
A Argentina ameaça criar barreiras informais contra os produtos brasileiros, o que provocou uma crise diplomática entre os dois países, até agora mantida em sigilo. A ameaça foi transmitida, em tom agressivo, ao embaixador do Brasil em Buenos Aires, Ênio Cordeiro, pelo polêmico secretário de Comércio argentino, Guillermo Moreno, conhecido pelo estilo truculento com que lida com empresários e funcionários do governo local.

(fonte: Valor Econômico, Segunda-feira, 22 de novembro de 2010, caderno A4, por Sergio Leo)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Eleição eleva temor de protecionismo

O ambiente de guerra cambial está aumentando seriamente os riscos de mais protecionismo e de fragilizar a já combalida recuperação econômica global. É basicamente a mensagem que a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) deve dar hoje junto com a Organização Mundial do Comércio (OMC), em relatório para os líderes do G-20 que se reúnem na semana que vem em Seul, na Coreia do Sul.
As "intervenções compensatórias" no câmbio criam em definitivo um risco de reações protecionistas, que seriam particularmente devastadoras, disse ontem o diretor-geral da OCDE, Angel Gurria, antecipando a mensagem das organizações internacionais.
O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, tem alertado por onde passa, e visivelmente em direção de congressistas americanos, que o foco na moeda chinesa não resolve o problema do déficit comercial americano, sinalizando que a dificuldade pode ser mesmo de competitividade mais estrutural.
Na cena comercial, em Genebra, em todo caso, a conquista da Câmara dos Representantes pelos republicanos nos EUA não traz preocupação adicional. Importantes negociadores acham que o tema de comércio tem pouco a ver com as ideologias dos partidos nos EUA, e mais com os lobbies bilionários entrincheirados há décadas em Washington, que financiam as campanhas de parlamentares.
Na situação atual, são os lobbies mais protecionistas que dão o tom no Congresso. A agricultura americana é viciada em subsídios. O setor industrial é cada vez mais ineficaz e não consegue competir com a China, os asiáticos em geral, e nem com o Brasil no setor siderúrgico, por exemplo. A exceção é o setor de serviços.
"A postura dos lobbies é de preservar o mercado americano, ainda mais no contexto atual de pouco dinamismo", afirma um alto negociador.
A administração de Barack Obama deflagrou o plano de duplicar as exportações americanas em cinco anos. E isso só pode ocorrer por duas maneiras. Primeiro, dando mais subsídios, porque não dá para aumentar a eficiência da economia da noite para o dia. E segundo, forçar abertura unilateral dos mercados mais dinâmicos dos emergentes, como o Brasil, um cenário difícil de ocorrer.
Assim, espera-se forte pressão dos EUA, na discussão sobre câmbio no G-20, para se arranjar meios de reduzir seu déficit comercial.
Gurria, da OCDE, deu indicações do que pode estar por vir. Insistiu ontem que a valorização de moedas de países emergentes mais dinâmicos deverá continuar e é uma "condição necessária para o reequilíbrio da economia mundial".
Para o chefe dessa espécie de clube dos países ricos, "os ajustes de taxa de câmbio não deverão, porém, ir muito longe, sob o risco de afetar certos países de maneira desproporcional".
A configuração da atividade econômica mundial e das políticas monetárias favorece um fluxo de capital que aprecia também os preços nos mercados imobiliários e nas bolsas dos países destinatários. E alerta para a possibilidade de uma inversão futura dos fluxos de capitais.
A OCDE insiste que os emergentes mais dinâmicos da Ásia deveriam gastar suas economias, poupanças acumuladas através do comércio, em programas para suas próprias populações, ao invés de acumular títulos e ações dos países ocidentais.
A entidade defende um quadro "eficaz e reforma do sistema monetário internacional, que poderiam se reforçar mutuamente". Esse quadro poderia fornecer instrumentos de ajuste de médio prazo, enquanto a reforma do sistema monetário asseguraria a transição para regimes cambiais "mais flexíveis de maneira coordenada e regulada, evitando uma instabilidade excessiva".
Os dois mecanismos poderiam oferecer também "dispositivos de segurança financeira apropriados contra uma volatilidade inoportuna de fluxos de capitais no nível multilateral e regional, reduzindo por aí a necessidade de medidas estritamente nacionais, como acumulação de reservas excessivas". Para Gurria, esse amplo acordo permitiria a manutenção do crescimento econômico evitando o surgimento de "desequilíbrios exagerados".
Numa ilustração de como os americanos estão tão protecionistas hoje, basta ver que recusam duramente a proposta da Coreia do Sul de aprovar com antecipação, no G-20 da semana que vem, um plano de isenção total de tarifas para as importações dos países mais pobres do mundo.
Washington só aceita isso na Rodada Doha desde que tenha algo em retorno, e mesmo assim excluído 3% das linhas tarifárias, não por coincidência tudo no setor têxtil, reduzindo fortemente a vantagem para os mais pobres.
Mas fontes em Washington veem exageros sobre protecionismo, notando que os republicanos Dave Camp, do Michigan, deverá liderar a Comissão de Ways and Means, e Kevin Brady, do Texas, a subcomissão de comércio, ambos favoráveis à liberalização comercial.


(Fonte: Valor Econômico, quinta-feira, 04 de novembro de 2010, caderno A13, por Assis Moreira, de Genebra)

No Brasil, produtor perde e consumidor ganha com Doha, aponta estudo

Os produtores brasileiros terão mais a perder do que a ganhar, enquanto os consumidores podem ter uma boa economia com mais importações baratas se a Rodada Doha de liberalização global for concluída com as propostas que estão atualmente na mesa. As conclusões são de estudos apresentados ontem na Organização Mundial do Comércio (OMC), em seminário destinado a medir ganhos que uma abertura agrícola, industrial e serviços poderiam gerar para a economia mundial.
Pelas estimativas do Peterson Institute, de Washington, o Brasil importaria US$ 6,2 bilhões a mais do que exportaria adicionalmente, levando em conta os compromissos de cortes tarifários e reformas (como na área de serviços) que reduziriam barreiras. O país só aumentaria em US$ 2,7 bilhões as exportações de produtos agrícolas e industriais, e poderia exportar outros US$ 6 bilhões com iniciativas de mais abertura em certos setores, venda de serviços etc. O pouco volume de exportações agrícolas reflete o tamanho das barreiras tarifárias que persistirão, além da concorrência desleal em função dos subsídios bilionários que os Estados Unidos e a União Europeia querem manter.

Em contrapartida, as propostas atuais permitiriam importações adicionais de US$ 14,9 bilhões, basicamente pela melhora nas alfândegas, iniciativas de abertura mais rápida e, certos setores e também com peso nas compras de serviços.
Economistas do Banco Mundial apresentaram resultados em termos de "bem estar econômico". Concluem que, mesmo se o Brasil mantiver altas tarifas para proteger setores industriais mais sensíveis a concorrência externa, os ganhos pelo acordo para o consumidores brasileiros seriam de US$ 4,7 bilhões, com importações mais baratas. Se o país aplicar apenas os cortes definidos por uma formula, portanto abrindo mais o mercado, o ganho para o consumidor dobraria para US$ 9,8 bilhões.
Globalmente, o pacote de liberalização poderia render até US$ 280 bilhões em produção adicional. Mais da metade do ganho em aumento do PIB ficaria com UE, China e Estados Unidos. Doha poderia reduzir também os custos em 9% nas transações comerciais internacionais.
Apresentados os números, embaixadores dos principais países debateram duas horas, mostrando que as diferenças de interesse para alcançar um acordo ainda são enormes. O embaixador brasileiro Roberto Azevedo reclamou que o Brasil não tem certeza ainda de quanto ganhará com mais exportação agrícola, mas sabe que não ganhará nada em exportações adicionais nas áreas industriais e de serviços.
Os EUA cobraram mais abertura por parte dos emergentes, o que o Brasil rejeitou duramente. Alem dos cortes normais, Washington quer a abertura adicional no setor químico brasileiro, onde pede forte redução sobre 1.700 linhas tarifárias para que Doha possa ser retomada. Os EUA reivindicam também amplos cortes de tarifas de importação de máquinas industriais, equipamentos elétricos e eletrônicos. Azevedo exemplificou que atender "uma fração" do que os americanos pedem em certos setores industriais implicaria quase dobrar o tamanho do corte tarifário.
Na cúpula do G-20, em Seul, no mês que vem, sairá um novo comunicado dos chefes de Estado dando "impulso político" para a negociação ser concluída, mensagem que já perdeu credibilidade de tanto ser repetida.


(Fonte: Valor Econômico, quarta-feira, 03 de novembro de 2010, caderno A2, por Assis Moreira, de Genebra)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Medidas Antidumping

A 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a aplicação de direitos provisórios antidumping contra importadores de calçados chineses não viola direito líquido e certo dessas empresas. Os ministros negaram mandado de segurança a uma importadora que se sentiu prejudicada pela medida, pleiteada por uma associação do setor. Em setembro de 2009, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) impôs direitos antidumping provisórios aos calçados importados pela empresa. Entre seus argumentos, a importadora questionava a legitimidade da associação de fabricantes nacionais para dar início ao procedimento que levou à medida de defesa comercial da indústria brasileira. Segundo o relator, ministro Castro Meira, a legislação específica não impede que o processo administrativo seja iniciado por associação. A importadora também alegava cerceamento de defesa no procedimento administrativo, em razão da manutenção sob sigilo de diversos documentos e de seus argumentos terem sido "solenemente ignorados" pela Camex. Mas o relator não viu qualquer violação aos direitos da empresa.


(FONTE: Jornal Valor Econômico, edição de Quinta-feira, 21 de outubro de 2010, caderno E1)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Roda chinesa divide indústria automobilística da Europa

A União Europeia deve impor uma tarifa punitiva às importações de rodas de alumínio da China, numa disputa que mostra como a evolução chinesa para indústrias mais sofisticadas é motivo de tensão crescente com alguns de seus parceiros comerciais mais importantes.
Um comitê comercial da UE vota hoje uma medida para estender uma tarifa antidumping existente desde maio e a elevar de 20,6% para 22,3%. Pessoas a par da opinião do comitê dizem que ela deve aprovar a tarifa, que precisaria ainda ser ratificada pelos governos da UE.
Uma nova rodada de tarifas pode criar uma guerra comercial com a China no setor automotivo - uma possibilidade que prejudicaria montadoras europeias como a Daimler AG e a Volkswagen AG, para as quais o boom automotivo chinês se tornou uma fonte importante de lucros.
"As disputas comerciais com a China costumavam ser sobre sutiãs, sapatos e tábuas de passar", diz Simon Evenett, professor de economia do comércio na Universidade de St. Gallen, na Suíça. "Agora eles se sofisticaram e, cada vez mais, será sobre carros."
Mas o cenário no comércio de carros está longe de ser simples. As montadoras europeias e as fabricantes de autopeças estão profundamente divididas com relação à tarifa, com as montadoras fazendo lobby ferrenho contra ela e as fabricantes de autopeças fazendo campanha em seu favor.
Aqui em Landau, no sul da Alemanha, a altamente automatizada fábrica de rodas da Ronal AG emprega 480 pessoas para moldar e polir as rodas de alumínio para carros de luxo. A fábrica produz cerca de 2 milhões de rodas por ano.
A Ronal tem defendido com todas as forças as tarifas antidumping. Oliver Schneider, gerente de vendas da empresa, diz que "precisamos dessas tarifas se quisermos continuar expandindo nossos negócios".
Sem as tarifas, afirma a empresa, podem ser eliminados os empregos dos operários da fábrica de Landau e em outras fábricas da Europa que, juntas, produzem 10 milhões de rodas por ano. Por causa da concorrência chinesa, afirma a Ronal, ela não abre uma fábrica nova desde 2006.
Mas a Ronal e outras fabricantes de rodas estão em conflito com vários clientes importantes na Europa. As montadoras alegam que as tarifas se arriscam a motivar uma represália chinesa, que pode prejudicar as exportações de carros e peças para a China, o mercado automotivo que está crescendo mais rápido no mundo, e também aumentar o custo dos carros europeus.
"Sem a China, uma montadora não tem futuro", diz um lobista da indústria automotiva em Bruxelas que preferiu manter o anonimato. A China é a maior mercado de veículos do mundo, tendo ultrapassado o Japão e os Estados Unidos nos últimos anos, e continua a se expandir rapidamente.
A UE exportou US$ 5 bilhões em autopeças para a China em 2009, e esse mercado deve continuar crescendo bastante. As exportações de veículos também aumentaram. Só as exportações de carros alemães à China, por exemplo, mais que dobraram entre 2004 e 2009.
No caso do dumping das rodas de alumínio, a China nega que exporte a preços abaixo dos de mercado ou com prejuízo. "O preço das exportações chinesas de rodas é muito maior que o da venda interna, o que significa que as exportações chinesas de rodas não são dumping", diz Li Xiaoqing, representante da Associação de Montadoras da China.
Quando as tarifas antidumping contra as rodas da China foram criadas, em maio, o Ministério do Comércio chinês afirmou que a UE estava violando regras da Organização Mundial do Comércio. E o lado chinês afirmou também que iria retaliar. "Claro que temos nossas medidas defensivas caso a UE insista em estender as tarifas", diz Li.
Há um precedente. Ano passado, Pequim aumentou imediatamente as tarifas do frango e das autopeças americanas depois que o governo do presidente Barack Obama aumentou a tarifa de importação dos pneus chineses.
A questão pode gerar muitos problemas. Como nos EUA, os carros ainda estão no centro da indústria europeia. Só as exportações de autopeças da UE geraram US$ 100 bilhões ano passado, contando o comércio entre os membros da UE. E a UE também disputa com a Ásia para liderar o futuro do setor.
Obviamente, as rodas são um componente automotivo crucial, embora dois pares custem menos de US$ 150. Quase todas eram feitas de aço, mas desde os anos 70 as montadoras começaram a usar cada vez mais alumínio, um pouco mais caro, contudo mais leve e fácil de esculpir em formatos elegantes e aerodinâmicos.
Para mostrar que há dumping, os autores das queixas comerciais precisam provar que o produto em questão está sendo vendidos mais barato porque são fabricados a um custo abaixo do razoável, e que isso está tirando do mercado os produtores domésticos, um conceito chamado de "injúria".
O preço do alumínio corresponde a cerca de 50% do custo de uma roda automotiva, segundo pessoas do setor. Os fabricantes de rodas fora da China compram o metal de acordo com a cotação da Bolsa de Metais de Londres.
As fabricantes europeias alegam que as concorrentes chinesas se beneficiam do alumínio subsidiado. Os investigadores da Comissão Europeia concordam e concluíram que "o Estado chinês tem um papel primário no estabelecimento do preço do alumínio básico e interfere no mercado continuamente por meio de uma série de ferramentas".
A injúria geralmente é defendida com dados mostrando uma expansão rápida da participação no mercado. Mas não desta vez. As fabricantes europeias de rodas preferiram apontar o encolhimento de suas próprias margens.
Os baixos preços chineses derrubaram a margem de entre 7% e 10% para 3,2%, dizem os fabricantes europeus.
A Ronal e outras empresas europeias tentaram aumentar a automatização para concorrer melhor. Mas suas fábricas ainda não são tão avançadas quanto as chinesas termos de tecnologia industrial.
Na fábrica de Landau, o gerente de projeto Jurgen Becker assiste a um torquês gigante retirar uma roda de uma máquina de polimento: "A fábrica na China provavelmente é igual, mas com menos gente e mais robôs", diz ele. (John W. Millerm, The Wall Street Journal, de Landau, Alemanha. Colaborou Gao Sen, de Pequim)



Fonte: Valor Econômico, 14 de setembro de 2010, B4.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Empresa é condenada por "dumping social"

Arthur Rosa, de São Paulo
24/08/2010

É crescente o número de empresas condenadas por "dumping social", tema que já está na pauta do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Em recente julgamento, a juíza Beatriz Helena Miguel Jiacomini, da 4ª Vara do Trabalho de São Paulo, obrigou a Chambertain Administradora - adquirida pela BHG - Brazil Hospitality Group - a pagar indenização de R$ 50 mil. O valor deverá ser destinado à Associação de Apoio a Criança com Câncer (AACC).

O pedido de indenização foi formulado por uma ex-empregada, que conseguiu o reconhecimento de vínculo empregatício e verbas trabalhistas. O dumping social não está previsto na legislação brasileira. Mas magistrados de alguns Estados, a partir de um enunciado da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) de 2007, têm imposto a empresas que reiteradamente desrespeitam normas básicas - como assinatura de carteira e pagamento de horas extras - pesadas multas, que chegam em alguns casos à casa dos milhões.

A Vale, por exemplo, foi condenada pela 1ª Vara do Trabalho de Parauapebas (PA) em R$ 300 milhões - R$ 200 milhões de dumping social e R$ 100 milhões de danos morais coletivos - por não computar as horas de deslocamento dos trabalhadores às minas de Carajás. A sentença levou a companhia a celebrar recentemente um acordo com o Ministério Público do Trabalho. E em Minas Gerais, o Posto Avançado ligado à Vara do Trabalho de Ituiutaba proferiu sentença contra o Grupo JBS-Friboi, mantida em segunda instância. Na decisão, o frigorífico, que já recorreu ao TST, é obrigado a indenizar um ex-empregado.

No caso julgado em São Paulo, a juíza atendeu o pedido da trabalhadora por considerar a Chambertain "contumaz em contratar empregados sem registrar o contrato de trabalho, submetendo-os a adesões a cooperativas, abertura de empresas, mascarando a relação empregatícia com o objetivo de fraudar e impedir a aplicação do direito social laboral". Por meio de nota, a BHG informou que o processo é anterior à aquisição da Chambertin e que já recorreu da decisão. Para o advogado da trabalhadora, Wagner Luiz Verquietini, do Bonilha Advogados, as condenações por dumping social têm um cunho pedagógico e não apenas punitivo. "A Justiça do Trabalho deve coibir o desrespeito à legislação, que acaba dando vantagem econômica ao infrator", diz.

Fonte: Valor Econômico, E1, São Paulo, Terça-feira, 24 de agosto de 2010.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Mercosul aprova eliminação da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum

Os países que compõem o Mercado Comum do Sul (Mercosul) aprovaram nesta terça-feira (3) um programa para a eliminação da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) no intercâmbio comercial entre os membros do bloco, em uma cúpula que foi considerada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como a “mais importante, mais produtiva e mais coesa” de que já participou.

"No meu país tem gente falando contra o Mercosul", afirma presidente Lula

Atualmente, um produto que ingressa no Mercosul pelo Paraguai e depois é reexportado para o Brasil, por exemplo, paga duas vezes o imposto de importação, uma questão que representava um entrave ao bloco. O acordo fechado hoje prevê um cronograma para a eliminação dessa cobrança, mediante um Código Aduaneiro comum.
A aprovação aconteceu nas reuniões de San Juan, na Argentina, onde também foram concluídos os acordos de livre comércio com Egito, a regulamentação do uso do aquífero Guarani, a criação de um instituto de Direitos Humanos e a aprovação de nove projetos de desenvolvimento regional.
Ao final da cúpula, Lula e a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, elogiaram a dinâmica e as conquistas da reunião.
“Estamos muito contente com o nível de entendimento entre os associados, que visualizam cada vez mais que o Mercosul é mais que um bloco econômico”, afirmou a presidente argentina.
Lula, que assume a partir de hoje a presidência rotativa do Mercosul, elogiou o trabalho de Cristina, que exerceu o cargo nos últimos seis meses.
Para o presidente brasileiro, a eliminação da dupla tributação “foi uma coisa extraordinária, que estávamos pretendendo há muito tempo e que muitos consideravam impossível”.
Lula lembrou que participa de cúpulas do Mercosul desde 2003. "Posso dizer, sem medo de errar, que esta foi a reunião mais importante, produtiva, tranquila e coesa porque, mesmo na divergência, nos colocamos de acordo com argumentos, sem necessidade de ninguém brigar com ninguém".

Saiba mais sobre o Mercosul

  • O Mercado Comum do Sul (Mercosul) é um projeto de integração concebido por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, envolvendo dimensões econômicas, políticas e sociais. Os diversos órgãos que o compõem cuidam de temas tão variados quanto agricultura familiar ou cinema, por exemplo. No aspecto econômico, o Mercosul assume hoje o caráter de União Aduaneira, mas seu objetivo é constituir-se em verdadeiro Mercado Comum, seguindo os objetivos estabelecidos no Tratado de Assunção, que determinou a criação do bloco, em 1991

    Fonte: Ministério das Relações Exteriores
“A única coisa que faltou é o acordo entre Mercosul e União Europeia”, acrescentou Lula. “Agora cabe a mim convencer a União Europeia, convencer a França [que tem a presidência rotativa do bloco], que o acordo é importante”.

Acordo com Egito

Ontem, durante a Reunião do Conselho do Mercado Comum (CMC), foi fechado o acordo de livre comércio entre o Mercosul e o Egito. Isso permitirá a eliminação gradativa de tarifas sobre produtos brasileiros exportados para o Egito, como carros, café e frango, e de mercadorias egípcias importadas, como adubo e algodão.
O Egito é o segundo país de fora da América do Sul a ter um acordo de livre comércio com o Mercosul. O primeiro foi Israel, cujo acordo foi assinado em 2007, mas só entrou em vigência em abril deste ano.
Com o acordo, dos 25 principais produtos exportados pelo Brasil para o Egito no ano passado, 22 terão tarifa zero no final do período de transição, que pode ser já ou em até dez anos, conforme os produtos.

Aquífero Guarani

Também foi concluído um acordo sobre o aquífero Guarani, um sistema que se estende pelos territórios dos quatro membros plenos do Mercosul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
O acordo estabelece que cada um dos quatro países "exercem em seus respectivos territórios o direito soberano de promover a gestão, o monitoramento e o aproveitamento sustentável dos recursos hídricos do Sistema Aquífero Guarani, e utilizarão esses recursos com base em critérios de uso racional e sustentável e respeitando a obrigação de não causar prejuízo sensível às demais partes nem ao meio ambiente".
O documento também prevê que qualquer projeto com potencial de afetar o aquífero deverá ser apresentado aos vizinhos, e não poderá ser levado adiante se for comprovado caráter danoso.

Projetos de desenvolvimento

O Conselho do Mercado Comum aprovou nove projetos de desenvolvimento regional, sobretudo do Paraguai e do Uruguai, que compõem um investimento de US$ 795 milhões, dos quais US$ 650 milhões financiados pelo Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (Focem).
Os projetos envolvem linhas de transmissão elétrica, rodovias, apoio a pequenas e médias empresas, reforma de escolas públicas e saneamento básico. De acordo com o novo regulamento para esse tipo de iniciativa, os recursos aplicados serão integralmente destinados a empresas e fornecedores do bloco.

Instituto de Direitos Humanos

Também foi estabelecido o Instituto de Políticas Públicas de Direitos Humanos do Mercosul, com o objetivo de elaborar políticas comuns e promover eventos relacionados ao tema.
O organismo funcionará no prédio da antiga Escola de Mecânica da Marinha (Esma), em Buenos Aires, a maior prisão clandestina da ditadura argentina.


*Com agências internacionais e agência Brasil

Saiba mais em: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2010/08/03/mercosul-aprova-eliminacao-da-dupla-cobranca-da-tarifa-externa-comum.jhtm

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Comércio mundial crescerá 10% este ano, prevê diretor da OMC

SÃO PAULO - O comércio mundial deve crescer 10% este ano, após retração de 12% no ano passado, projeta o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. A previsão faz parte do relatório anual da instituição, apresentado nesta sexta-feira por Lamy durante visita a Xangai, informou a agência oficial de notícias chinesa Xinhua.

A expectativa para o indicador foi revista para cima, já que em março a OMC projetava um incremento de 9,5% do comércio entre as nações.

Durante a Expo Mundial de Xangai, o diretor-geral da OMC declarou que o forte crescimento chinês e sua demanda por importações são um fator importante na estabilização da economia global. Isso porque muitos países aumentaram suas exportações para a China durante a desaceleração da economia mundial, o que tornou o mercado chinês "crucial" para eles.

No primeiro trimestre do ano, o comércio internacional acumula crescimento de 25% ante os três primeiros meses de 2009. No relatório divulgado em junho, a OMC destacou o papel da demanda na Ásia no incremento das exportações globais, que avançaram 27% no período. Na China, o comércio saltou 65% no trimestre.

(Ana Luísa Westphalen
Valor, com agências internacionais)




Leia mais: http://www.valoronline.com.br/?online/internacional/13/6395463/comercio-mundial-crescera-10%-este-ano,-preve-diretor-da-omc#ixzz0vU8kNn9y